sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Como uma rosa frágil na neve

Os olhos sem movimento, a boca vermelha como rosas em primavera, o rosto virado para o Oeste, como se procurando algo diferente de tudo nesse mundo, sem movimentos salvo o vento leve desembaraçando seus cabelos. O céu pintado de vermelho, como um vaso de sangue derramando seu conteúdo, o sol adormecendo aos poucos, o fim do dia.

Suas mãos estavam apoiadas na grade da varanda, ajeitadinhas, a direita sobre a esquerda, vez ou outra virava para olhar se alguém vinha do lado de dentro do quarto. Ninguém. Não sabia há quanto tempo estava olhando para o por do sol, parecia tudo tão eterno! Pensava em todos os conhecidos, na família, nos momentos. Não via o motivo de tal fuga, ou de tal esquecimento, pegava-se tentando lembrar-se de algo acontecido em determinado dia, mas não conseguia, era tudo névoa!

O ar é tão frio e seco, congela minhas mãos, não consigo tirá-las dessa posição... Estranho, parece que estou a tanto tempo aqui, essa cena não muda, o dia não termina. Ai! Por que dói?

Afastou todas as dúvidas da mente, agora começava a se lembrar, apoiou as mãos na barriga, era uma dor muito forte, curvou-se desesperadamente, buscou apoio nas grades, avistou o abismo. Passos, gritou por socorro. Passos, ecos vindos de dentro do quarto escuro. Passos, se aproximando cautelosamente.

O que eu fiz?

Tudo ficou branco a dor ainda não passara por completo, levantou-se com certa dificuldade, era tudo neve, frio. Caminhou encurvada na imensidão branca. Silêncio nem vento, nem suspiros. Seus pés doíam, seu corpo pedia abrigo, sua boca pálida queria vinho, seus olhos cinzentos e sem movimento precisavam descansar. Silêncio. Lágrimas escorriam pela face. Não se conformava, não podia ser verdade, onde estava? Ao longe um sobrado, simples, no meio do branco infinito, com as portas abertas. Entrou, subiu as escadas segurando firmemente no corrimão, a dor já não existia, Abriu a porta de um quarto, uma cama e uma mesa com uma garrafa de vinho. Descansou os olhos, bebeu o vinho, a cor voltava à sua face.

Não posso aceitar...

Lágrimas escorriam, sua alma não aceitava. Avistou a porta da varanda, aos poucos se aproximou olhar uma paisagem sempre é bom. No Oeste o sol vagarosamente deitava-se no rubro horizonte do crepúsculo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bem enigmático esse pequeno conto, pode suscitar inúmeras interpretações. A minha é de que parece alguém que acabou de cometer um ato grave, de grande violência, algo realmente extremado, e agora perde-se nos momentos que sucedem algo assim, não sabendo se deve fugir, esperar para encarar as consequências...
Até mais.