terça-feira, 25 de novembro de 2008

Era

Ela olhava para tela do computador, os olhos fixos naquelas linhas tão afiadas. A respiração começava a falhar, aos poucos, como se o último fio de ar se esvaísse de seus pulmões comprimidos e a garganta se fechava para nunca mais abrir. Não podia saber se o que escorria de seus olhos eram realmente lágrimas, na verdade não sabia de nada. Por um instante infeliz seu corpo deixara de responder aos seus comandos, o lábio inferior tremia a cada tentativa de colocar um pouco de ar dentro de si... Já não importava tanto, realmente, respirar ou não, para que o esforço? Era inútil, a tentativa mais inútil de toda sua vida. E a vida mais inútil de toda sua tentativa.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

S

Suave, rápido e inesperado.
O som emerge do caos como uma rosa,
pétalas de algodão recolhidas a esmo.
Figuras sem ordem surgem
Incandescentes em meus sentimentos.
Mãos suaves como o lençol
que me diz bom dia, ou boa noite.
Suaves como a música que ouço quando
me perco em solidão.
Suaves como os sentimentos que crio
naquelas madrugadas longas...

Suave e sutil, sempre presente e singelo
sussurra em meus sentidos a síntese
de todas as imagens na memória...

Minha íris pelo chão, os cacos
e o espelho se recuperando
nenhuma regra ou corrente.
Só o sentido de apenas sentir,
por instinto, a suavidade
em cada vez que me olha...

sábado, 15 de novembro de 2008

A parte sem o todo

Foi em uma tarde calma e quente
que seus olhos se fixaram num ponto
fixo forjado, um espelho quebrado
e cacos espalhados no concreto enevoado.
Eram os nós de alguma coisa
rasgando a garganta... Tão fechada...
Eram réplicas de sua íris pelo chão
e apenas réplicas num mosaico de confusão,
dentre os cacos não havia cor
calor
nada.
Eis então, passos, ecos e mãos;
os lábios e a promessa...
A leve promessa do sorriso sem métrica,
Tão doce no meio do caos
da solidão.