terça-feira, 29 de julho de 2008

Prece

A mãe dissera-lhe para ficar de joelhos durante a prece, fechar os olhos e comprimir seus suspiros em suaves ondas de pensamento violeta, voando tranqüilas para o infinito de sua imaginação concreta no céu desconhecido. Os lábios abriam-se levemente para liberar o êxtase que se transformava em sufoco, o grito mudo de satisfação em tão poucas palavras sem nexo colocadas uma diante da outra em uma fileira entoada por desentendimento. E as mãos estrangulavam o frágil cordão com contas marcando a pele e a carne com pequenas crateras vermelhas sem ardor, não havia ardor algum, apenas o incomodo de um imaginário manipulado.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

E voltam as Memórias de uma Ninfomaníaca

"Se eu amasse seus olhos como amo seu corpo, todas as minhas noites seriam banhadas de estrelas. Porém minha alma sofre deliciosamente ao perder o sangue do meu romantismo na escuridão."

- Uma personagem -

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Há tanto tempo...

Há dias que sumiste, nenhum rastro, nenhuma pista, apenas a esperança de um reencontro, talvez majestoso, talvez doloroso. Há anos surgiste, tocando a parte mais obscura da minha alma, tatuando singela flor de poesia na minha pele, palavras vagas, linhas intermináveis, há tempos, há vidas passadas. Há tantos minutos. Sou bobo em acreditar no qualquer coisa que pode aparecer, um bobo incorrigível, incontrolável, em quem mais poderia confiar? Não há mente alguma capaz de me enxergar através dos meus olhos, tu ultrapassaste mais, ultrapassaste meus lábios mortos e secos, meus órgãos podres, meu pulmão sem fôlego. Sabe, procurei por dias, plantei pistas para me iludir, fiz teorias macabras, planos vazios, andei por todas as ruas que me lembrava, às vezes poderia encontrar um pedaço de ti virando alguma esquina, um pedacinho esquecido, deixado para trás. Às vezes. Mas quem disse que “às vezes” existe?

Ninguém. Ninguém me acompanha como uma sombra, um fardo, muito mais ainda, como um fim. Talvez eu esteja destinado a Ninguém, abraçá-lo e deixar meu corpo fluir para um lugar perdido nas entranhas de um beco qualquer. O mundo terminará em letras, um caos de palavras jogadas ao acaso formando mensagem nenhuma, mergulharemos sem medo num mar de significados que nunca entenderemos e ficaremos lá, perdidos, afogados nos dilemas que Ninguém nos jogará para tentarmos decifrar. Um bom passatempo eu diria, pois talvez no caos do fim do mundo eu terei a chance de tentar entender aquelas linhas trêmulas e inseguras que eu tentei parir em momentos de êxtase e desespero, assim como poderei ter a oportunidade de finalmente compreender as tuas linhas tão desejadas e esperadas, esperadas com tanta ansiedade.