segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Batalha Mental

Então acabará o mundo em versos
Numa batalha épica com os números.
O caos áureo típico da razão
Degradando as marcas da solidão.
E os triângulos simbólicos da fé,
Que evanesce pelas línguas confusas,
Serão teoremas do passado provando
O que um dia se acreditou improvável.
E não haverá mais lógica ou verdade
Apenas os ossos frios das escritas
Tirados de poemas ou corolários
Na marcha do apocalipse acadêmico.

domingo, 21 de setembro de 2008

Nada

Seus olhos fugiram pelo horizonte

No azul claro de qualquer sonho

Naquelas linhas tortas

Simples e sãs.



E seus lábios cantavam alguns versos

Pequenos, tristes e simples.

Suas mãos congelavam

Ao tocar nada.



Nada, resultado daquele sonho,

Nada, paisagem de sua vida,

Nada que então procura

O olhar que foge.



Pelo horizonte e nos versos perdidos.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Como uma rosa frágil na neve

Os olhos sem movimento, a boca vermelha como rosas em primavera, o rosto virado para o Oeste, como se procurando algo diferente de tudo nesse mundo, sem movimentos salvo o vento leve desembaraçando seus cabelos. O céu pintado de vermelho, como um vaso de sangue derramando seu conteúdo, o sol adormecendo aos poucos, o fim do dia.

Suas mãos estavam apoiadas na grade da varanda, ajeitadinhas, a direita sobre a esquerda, vez ou outra virava para olhar se alguém vinha do lado de dentro do quarto. Ninguém. Não sabia há quanto tempo estava olhando para o por do sol, parecia tudo tão eterno! Pensava em todos os conhecidos, na família, nos momentos. Não via o motivo de tal fuga, ou de tal esquecimento, pegava-se tentando lembrar-se de algo acontecido em determinado dia, mas não conseguia, era tudo névoa!

O ar é tão frio e seco, congela minhas mãos, não consigo tirá-las dessa posição... Estranho, parece que estou a tanto tempo aqui, essa cena não muda, o dia não termina. Ai! Por que dói?

Afastou todas as dúvidas da mente, agora começava a se lembrar, apoiou as mãos na barriga, era uma dor muito forte, curvou-se desesperadamente, buscou apoio nas grades, avistou o abismo. Passos, gritou por socorro. Passos, ecos vindos de dentro do quarto escuro. Passos, se aproximando cautelosamente.

O que eu fiz?

Tudo ficou branco a dor ainda não passara por completo, levantou-se com certa dificuldade, era tudo neve, frio. Caminhou encurvada na imensidão branca. Silêncio nem vento, nem suspiros. Seus pés doíam, seu corpo pedia abrigo, sua boca pálida queria vinho, seus olhos cinzentos e sem movimento precisavam descansar. Silêncio. Lágrimas escorriam pela face. Não se conformava, não podia ser verdade, onde estava? Ao longe um sobrado, simples, no meio do branco infinito, com as portas abertas. Entrou, subiu as escadas segurando firmemente no corrimão, a dor já não existia, Abriu a porta de um quarto, uma cama e uma mesa com uma garrafa de vinho. Descansou os olhos, bebeu o vinho, a cor voltava à sua face.

Não posso aceitar...

Lágrimas escorriam, sua alma não aceitava. Avistou a porta da varanda, aos poucos se aproximou olhar uma paisagem sempre é bom. No Oeste o sol vagarosamente deitava-se no rubro horizonte do crepúsculo.

sábado, 6 de setembro de 2008

Pedra

Sou um ponto, ou melhor, uma linha curva semelhante a uma pálida bengala infestada de cupins. Grande parte da minha vida deixo meu corpo leve e comprido esticado em um fino colchão imerso na penumbra de um cubículo, cuja única janela é um espelho de corpo inteiro fixado na parede em frente a minha cama. Nas horas que os dedos dourados do sol iniciam sua batalha para penetrar no concreto de meu aposento, algo dentro de meu crânio desperta, fazendo minhas pernas curvas e cansadas rastejarem até a janela refletora.

A imagem que se apresenta aos meus olhos nublados repugnaria qualquer sorriso supérfluo, a barba mal feita, despontando teimosa na tez anêmica, faz do meu rosto uma manta áspera e parcialmente suja, clamando por uma camada delicada de água límpida. Minha expressão facial de nada é melhorada pelos meus lábios secos e finos, como um corte de navalha disforme, algo neles me lembra gotas tranqüilas e ácidas que corroem aos poucos a superfície, que tocam e deformam as palavras por eles faladas. Um aspecto observador pode resumir esta decadente face tímida tão enclausurada em si mesma que zomba da minha covardia social toda manhã.

Durante meus raros passeios pelos mantos de asfalto, percebo que olhares rápidos e doloridos pousam sobre minha figura doente. Poucos, porém, detêm-se mais aos detalhes rudes de meu corpo, como o nariz adunco e as mãos grandes de mais, atrapalhadas na dança do caminhar. São olhares em geral enjoados, não muito diferentes daqueles lançados a mim pela família e amigos (praticamente inexistentes), creio que fui um erro, um mau projeto da mulher que me jogou ao mundo.

Meu melhor momento é a noite, de preferência sem lua, em que o retrato mais comum em meu cubículo é um homem de idade razoável, com um nome bárbaro, cantarolando, em um sopro adocicado e inebriante, uma sinfonia qualquer, sentado em uma tosca escrivaninha. Em cima desta, uma folha em que rabisco, com traços leves, os distúrbios latentes e desejos comprimidos de um desiludido que anseia um dia ser dissecado. Porém é na forma fria de uma pedra que deposito todas as minhas esperanças físicas.