quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Uma Mão um Caderno uma Estante uma Escrivaninha a Luz a Janela o Exilio enfim

Era um mar de lembranças vagas que permanecia latente no desejo interior, o impulso que faltava para a grande obra ou um simples sorriso. A saudade já era apenas uma batida disfarçada do pulso e a sensação de não sentir, ou fingir não se importar, um pano de fundo perfeito para o cenário central. Mas sempre falta algo, aquela janela que se abre em algum dia desses, num minuto perdido. Sempre os minutos.

Meu conto torto

Um poema morto

Ou a idéia singela

E um rápido aborto.

Simples objetos e rápidas páginas amareladas, aquilo que é e o que este poderia ser, letras trocadas e reflexões demoradas de assuntos prosaicos. Um turbilhão sem aviso prévio e a vontade de penetrar em algo que ainda é apenas um ideal. Talvez o mais próximo que se chegue seja através das palavras escritas que uma vez lidas, organizadas e absorvidas (depois de devidamente saboreadas) realizam a escultura em névoa de uma silhueta qualquer.

Sempre, no entanto, faltarão aquelas coisas impossíveis, possivelmente escritas em uma carta secreta a alguém de confiança numa sexta feira simbólica. Sexta feira eterna de uma memória partida e distante, algo sem ordem, sonhos ou vida; apenas notas repartidas e tragos confusos. Sim, sempre a confusão e a espera frágil de um futuro minuto, talvez três.

Pulando de olhar em olhar, abraço em abraço, nada em nada. Apenas um pulo e apenas um suspiro, talvez em um desses saltos haverá um degrau e uma estante de vidro com uma garrafa de vinho fechada e sem saca rolhas. No fim, isto não é tudo que deveria ser, não é uma caneca, nem um pouco de café, talvez somente cem anos de solidão espremidos em três minutos furtados e devaneios quaisquer.

Um comentário:

Anônimo disse...

Como sempre muito bom o texto. Ele exprime com clareza o turbilhão de emoções pelo qual passa o(a) autor(a) quando está prestes a começar a escrever, lidando com a torrente de inspiração, que vem sem aviso e sem controle. E aqueles que conseguem domá-la e canalizá-la corretamente é que acabam criando grandes obras e textos, de grande valor sentimental. Como você, por exemplo, hehe
Até mais.